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O blog foi desenvolvido com o objetivo de mostrar a outras pessoas meus textos, não-textos, viagens, lombras, idéias, não-idéias, poesias ou algo parecido ou nada parecido :P

Espero que gostem, entendam, compreendam e, se possível, reflitam nas horas vagas ou nas vagas horas do nosso cotidianO :P

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Lotação de solitários

Estava eu sentado em mais uma cadeira de ônibus
Em meio a mais um devaneio de pensamentos
Causado não sei se pelo ócio do passar das paradas
Ou talvez pela insensatez das tantas coisas que passavam à minha frente...
E comecei a observar mais atentamente a mecanicidade de tudo aquilo
Ou de todos aqueles...ou de todos nós...ou de todos eles...
ou deles todos...tolos? Enfim...(...)...
Os assentos do coletivo diagramavam perfeitamente
o que era tão abstrato em minha mente
Creio eu, ou pelo menos finjo acreditar, que todos ali tinham uma imensa adoração
por janelas...isso porque as cadeiras do corredor estavam todas vazias
Cada um dos tantos que ali habitavam por algumas ou muitas paradas
Tinha como companheiro de assento e destino o vento...
O qual relutava por um diálogo, por um calor tipicamente humano...
Mas não conseguia sequer soprar-lhes aos ouvidos.
Os fones do tão alto mp3 ou 4 ou 5 ou 6 ou talvez até 12, vai saber né...
isolavam acusticamente, de uma forma perfeita,
as orelhas de cada pessoa que ali era transportada
mas o vento não desistia de algo assim tão facilmente...
Tentou arrepiar-lhes as espinhas
que friamente se alojavam naquele coletivo...
mas novamente em vão...
o máximo que conseguiu foi a quebra do isolamento por alguns segundos,
ocasionado pela dúvida que surgiu na mente dos humanos ali presentes...
mas rapidamente o fone voltou ao seu lugar de origem...
O vento, que tanto precisava de calor humano para sobreviver,
relutava contra a frieza...se debatia em meio à fraqueza...
E repentinamente teve a idéia de conversar com as pilhas e as baterias dos tão famosos aparelhos, os quais reinavam naquele contexto silenciosamente ensurdecedor...
Pediu-lhes que adormecessem um pouco, que retomassem suas energias
Para que ele pudesse conversar um pouco com aquelas criaturas que ali estavam...
Sensibilizadas com tal pedido, as baterias e as pilhas, atendendo à súplica feita pelo agora agonizante vento, resolveram descansar um pouco...logo os seres começaram a ficar agitados e impacientes com a interrupção das trilhas sonoras da lotação de solitários...
Prontamente, alguns já sacaram pilhas e baterias reservas das bolsas
e retornaram ao seu mundo...
Outros, não tão precavidos, começaram a sentir algo estranho...fora do comum...fugindo do cotidiano da lotação de solitários...mas resistiram um pouco e já ocuparam a mente com cálculos de dívidas...outros transportaram a mente para um passeio virtual em meio às lojas do shopping, mentalizando quais produtos iriam comprar...alguns outros já vasculhavam as bolsas e os bolsos, na procura por uma ligação que iniciaria alguma discussão telefônica, só para matar o tempo...ou os neurônios...ou os dois né...
Mas alguns poucos, ao se libertarem do próprio mundo, sentiram o aroma do novo ambiente...reparavam agora que havia outras pessoas por perto...existiam outras mentes ali...e bruscamente notaram a presença do vento, que já agonizava em meio à multidão de solitários...e começaram a ouvir o que o vento tinha a dizer...(...)...(...)...

E lá no fundo do ônibus, um jovem analisava a tudo e a todos...
com os olhos de um ser humano...
com a mente de um sonhador...
com os dedos de um escritor...
e com o coração de um poeta...
e, feliz com a libertação de alguns passageiros da lotação de solitários,
conseguiu terminar uma poesia que começara na lua passada
e que não havia ainda terminado:


“ Espinhos que se diziam flores,
Flores que se diziam vento,
Vento que, para alguns, não dizia nada.
Para outros, pronunciava quase nada.
Mas que para os fortes era o começo de tudo.
E de todos...”